Serviços e atendimentos de saúde considerados simples na rotina de quem mora na cidade tiveram um significado diferente para mais de 500 famílias que vivem na comunidade rural de Sangradouro, localizada no município de Santo Antônio de Leverger. Elas foram atendidas pelo Projeto Ribeirinho Cidadão, que começou nesta quarta-feira (01.02) e vai até o dia 20 de fevereiro.

Devido à distância e a dificuldade de locomoção até a capital do Estado, muitos sofrem com a falta de assistência médica e também não usufruíam de direitos básicos da cidadania, já que não possuem documentos de identificação como RG, Certidão e Nascimento ou Título de Eleitor. Com o projeto, os moradores contaram com serviços que incluíram consultas médicas, vacinação, distribuição de medicamentos (com prescrição), resolução de conflitos, assistência social e até a realização de casamentos.

Sangradouro foi a primeira comunidade atendida pelo Ribeirinho Cidadão, que está em sua décima edição, e é uma realização do Tribunal de Justiça e Defensoria Pública de Mato Grosso e conta com o apoio do Governo do Estado, Assembleia Legislativa e vários parceiros. “Ao longo destes 10 anos conseguimos consolidar a nossa credibilidade junto à população. Por isso dá tão certo. O resultado é excelente e nossa missão e nos doar ao máximo”, afirmou o coordenador do projeto, juiz Antônio Bezerra Filho.

Entre uma fila e outra a ansiedade e a expectativa eram grandes e todos tiveram o retorno esperado, como relataram os pacientes. “Só quem não tem condições, sabe a dimensão e o quanto somos gratos por ter médicos aqui”, disse o aposentado Teodoro de Aquino Rosalino. Ele procurou o ponto de atendimento relatando sentir fortes dores no peito. 

Dona Maria Gloria da Cruz, 67, nasceu na comunidade e nunca tinha ido ao oftalmologista. “Não enxergo nem para colocar uma linha na agulha”, disse a aposentada, que mostrou satisfação ao saber que teria a oportunidade de ser atendida. Este serviço é uma das novidades desta edição, que conta com uma carreta da Caravana da Transformação que acompanha o trabalho das equipes realizando consultas oftalmológicas.

Primeiro registro

Quase um mês após o nascimento, Alan Patrick Barbosa pôde ser registrado pelos pais. Ele foi o primeiro bebê a ser registrado durante o Ribeirinho Cidadão. “No hospital foi tão corrido que esquecemos de levar os documentos e acabamos deixando para depois. Moramos em sítio e alugar um carro daqui até a cidade é muito caro”, contou Weliton Patrick da Conceição,18, pai do bebê. 

Mais tranquila com o registro do bebê, Ana Paula Barbosa, 19, disse estar satisfeita. “O projeto consegue abranger várias comunidades e facilita muito para que a gente consiga resolver questões pessoais de forma mais rápida”. 

Os atendimentos foram acompanhados também pela vice-prefeita de Santo Antônio de Leverger, Franciele Magalhães. “Esse projeto é mil. São pequenas coisas que fazem uma enorme diferença na vida dessas pessoas. Ao chegarem, é visível a tensão; mas após receberem o atendimento, elas saem com um sorriso no rosto”, observou. 

Realizado desde 2006, o Ribeirinho Cidadão foi criado para levar serviços essenciais como saúde, justiça e cidadania para uma população isolada e desprovida de assistência social e judiciária. A etapa terrestre do projeto acontece entre os dias entre os dias 1º e 10 de fevereiro e serão atendidas 26 comunidades, dentre elas Agrovila das Palmeiras e Distrito de São Lourenço de Fátima. A etapa fluvial começa no dia 11 em Barão do Melgaço e termina no dia 20 de fevereiro, em Poconé, passando por mais 35 comunidades.

A Marinha do Brasil também é parceira do projeto por meio do Comando do 6º Distrito Naval, cuja jurisdição abrange os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Distrito, baseado em Ladário (MS), e que tem no comando o Contra-almirante Barros Coutinho, apoia o Ribeirinho Cidadão com o Navio de Assistência Hospitalar Tenente Maximiano na etapa fluvial, a partir do dia 11. Dois médicos e dois odontólogos que estarão a bordo irão prestar assistência médica e odontológica às comunidades ribeirinhas. A Marinha também irá distribuir remédios e cobertores e agasalhos doados pela Receita Federal.