Opinião Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 10h:25 | Atualizado:

Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 10h:25 | Atualizado:

Sirlei Almeida

Eu fui vítima de violência doméstica

 

Sirlei Almeida

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Fui vítima da violência doméstica. Talvez você não saiba, mas assumir esta condição é algo extremamente difícil para mim. Ao escrever e assim compartilhar algo tão íntimo de minha vida gravito entre o medo, a vergonha e a tristeza. 

Ao longo de quase 9 anos fui vítima de um psicopata que me agrediu de todas as formas. Sofri violências emocionais, financeiras, físicas e até sexuais. É triste pensar, mas esta história se repete todos os dias nos mais variados recantos do Brasil e do mundo. Tenha certeza que enquanto você lê este texto mulheres estão sofrendo os mais terríveis abusos, histórias que em muitos casos vão terminar em morte.

Sou uma sobrevivente, com a ajuda de uma amiga muito especial, consegui me libertar do agressor e aos poucos meus dias de prisão e sofrimento vão ficando no passado. Hoje vivo um novo relacionamento, tenho uma filha e sou feliz, mas sei que as muitas mulheres que ainda sofrem nas mãos de seus agressores precisam de ajuda. 

Acredito que um importante avanço neste sentido seja o Projeto de Lei PLC 07/2016, que tem como objetivo, acrescentar alguns artigos a Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 

Esse Projeto de Lei prevê a inclusão do art. lO-A, que trata da prevenção da revitimização à mulher durante os atendimentos policiais; traz também o art. 12-A que dispõe sobre a obrigatoriedade de especialização dos serviços policiais e ainda propõe a inclusão do art. 12-B, o qual tem sido motivo de grande discussão entre os profissionais do Judiciário, Ministério Público e Delegados.

O referido artigo, se aprovado, permitirá a Delegada, preferencialmente ou Delegado de Polícia que tomar conhecimento do caso, conceder de imediato, medidas protetivas de urgência.

Prevê ainda que, quando a delegada ou delegado conceder as medidas protetivas, terá que encaminhar tudo ao juiz em 24 horas, para realizar o controle judicial, que poderá́ alterar, manter ou revogar as medidas deferidas pela delegada ou delegado. Isso vai dar celeridade aos processos e com certeza, trará segurança para que as vítimas procurem ajuda. Hoje quando tudo ocorre de acordo, as medidas protetivas são conferidas num prazo de 7 dias, mas é comum a história se arrastar por até sessenta dias ou mais. 

Pela minha experiência de vida posso afirmar que para quem vive com uma pessoa desequilibrada, possessiva e agressiva, um dia é muito tempo para esperar por proteção, o que dizer então de 5, 7 60 ou mais dias.

Confesso que na primeira vez que assisti a uma matéria sobre o projeto 07/2016, considerei muito eficaz e um grande avanço da legislação brasileira relacionada a defesa das vítimas de violência doméstica, contudo logo após vi outra matéria que trazia como título “PLC 07/2017 – Retrocesso”, isso me chamou tanto a atenção que li a matéria para entender o por quê do retrocesso e a partir desse momento, li tudo que encontrei referente as discussões acerca desse projeto de lei, para ver se algo poderia de fato mudar a opinião inicial acerca do significativo avanço que representaria para a legislação brasileira de proteção a vítimas de violência doméstica, a possibilidade do Delegado, ao tomar conhecimento do crime, deferir de imediato medidas protetivas para a vítima. 

Me lembro que apesar de ter sofrido as mais diversas formas de violência doméstica, na época não tive coragem de denunciar meu agressor. O fato de saber que após denúncia, teria que voltar para casa e aguardar uma intimação ou uma audiência para só então receber alguma medida protetiva fez com que eu desistisse de buscar ajuda. A ideia de fazer a denúncia e com isso colocar meu ex-marido em estado de alerta me deixava apavorada, pensava nas consequências e temia por minha vida. 

Somente quem sofreu esse tipo de violência, tem condições de saber, de fato, o risco que se corre todos os dias ao lado do agressor. Eles são altamente desconfiados e um passo em falso pode resultar em novas agressões e cada vez mais violentas, isso fez com que eu aguentasse calada a situação. Era o medo, medo de morrer.

A vítima fica doente, deixa de acreditar em si mesma, tem medo, muito medo e quando cria coragem de procurar ajuda, está no limite, por isso precisa de proteção imediata, não pode voltar para casa com um papel na mão para aguardar que o agressor seja intimado em quem sabe, uma semana, se tudo der certo. É preciso lembrar que muitas vezes, essas vítimas não conseguem sair de casa sozinhas ou quando conseguem precisam informar onde exatamente foram, sabendo que a sua informação será checada. 

Desta forma eu pergunto. Como denunciar sem a segurança de uma proteção imediata? Como sair de casa para ir a uma Delegacia de Polícia e voltar para a mesma casa em que vive com um homem desequilibrado e extremamente violento? Por esses motivos faço a defesa para a aprovação desse Projeto de Lei, PLC 007/2016, pois entendo ser de suma importância para melhor eficácia da Lei Maria da Penha, na defesa das vítimas de violência doméstica.

Vejo que nesse momento, o foco principal deve ser a vítima da violência doméstica e não interesses corporativos ou de defesa do agressor.

Sirlei Teresinha Theis de Almeida, é advogada, servidora pública e foi vítima de violência doméstica por quase 9 anos.

 





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Comentários (20)

  • Marcelo

    Sábado, 02 de Julho de 2016, 08h47
  • Infelizmente vemos cada tipo de comentário aqui... Agora sei porque tantas mulheres ainda sofrem violência doméstica. Acho que as pessoas que escreveram que ela deveria ter fugido de casa, ou nunca viram um tipo de violência em casa ou só podem ser agressores.
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  • Naeg

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 17h52
  • Sou contra qualquer tipo de violência, e contra leis específicas. Para mim uma mulher vítima, ou homossexual, ou criança, ou homem, sejam eles branco, negro, asiático etc. são iguais... Não concordo com leis específicas se todos são iguais. Se um homem, ( hétero ou homosexual) sofrer uma violência similar não merece atendimento? Porém concordo com mais preparo das unidade para atendimento as vítimas... só que para todas vitimas e não casos específicos... Respeito é igualdade para todos.
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  • Marize

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 16h47
  • Eu também fui vítima de violência doméstica uma única vez, não dei ao meu agressor a oportunidade de me agredir de novo, sai de casa com meus filhos, fui à delegacia mais próxima com o rosto totalmente desfigurado, fiz um boletim de ocorrência, em seguida procurei um hospital, o médico solicitou um raio x e com o resultado do exame recebi o diagnóstico de maxilar quebrado. 9 anos é muita coisa! A mulher tem que tomar uma atitude ao primeiro sinal de violência.
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  • BESOURO

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 12h16
  • DURANTE***meu teclado.
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  • BESOURO

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 12h15
  • DURENTE 9 ANOS ELE NÃO DORMIU NEM UMA VEZ, NÃO VIAJOU, NÃO SAIU PRA TRABALHAR, NÃO FOI A UM BAR, ETC???
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  • Hernan

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 08h59
  • parabens pela coragem1
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  • marido

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 08h51
  • porque não deu uma panelada de pressão na cabeça dele, chamou a policia e fugiu pra casa da mãe? não entendo porque aguenta tanto tempo dividindo o mesmo teto com uma criatura assim.
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  • Paulo Boss

    Quarta-Feira, 29 de Junho de 2016, 08h16
  • Nove anos... hummm. Oque um tirinho não evitaria tudo isto. !
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  • L?gia

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 22h00
  • O fato da medida ser deferida por um juiz ou delegado em nada vai mudar a situação da vítima gente o que realmente fará diferença é a atitude da mulher gente hoje temos a casa de amparo temos outros órgãos de proteção ficar ao lado de um homem por nove anos é inconcebível. Também fui vítima de violência e sabe como resolvi o problema? Com ATITUDE nem o dinheiro, poder,status e a força física conseguiram derrubar meu amor próprio
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  • Silvia

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 20h30
  • Só quem passa por esse problema sabe o que é. As pessoas não devem julgar. Devem auxiliar. A vítima tem seu tempo e é quem tem o poder de "quebrar" o "ciclo de violência". Parabéns pela coragem em expor seu problema para que outras vítimas tenham sua vida livre da violência.
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  • Juliana

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 20h28
  • Sirlei, se já te admirava sem conhecer essa parte da sua história, digo que minha admiração triplicou! Primeiro porque despir-se de si mesma e narrar publicamente um episódio de violência é de fato ter consciência de seu papel transformador, é ter consciência do quanto é difícil romper com o ciclo de violência doméstica que se estabelece. Segundo por testemunhar o quanto é penoso o caminho de quem sofre a agressão, seja pelos próprio mecanismos legais, seja pelos comentários preconceituosos e despidos de compreensão que essa problemática enseja. São tantos julgadores da mulher, são tantos sabedores de tudo, são tantos dissabores que levar à cabo a intenção de denunciar, ainda enseja crítica e julgamento. E, por fim, minha admiração se eleva por vê-la renascida, refeita e tão consciente de si que falar do que passou revela-se importante para ajudar quem necessita de incentivo para denunciar. Como mulher, como cidadã tenho o dever de agradecê-la por fomentar o assunto, auxiliando na reflexão e contribuindo positivamente no enfrentamento da violência doméstica.
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  • Olga

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 19h04
  • Parabéns pela coragem de expor o seu drama e por te-lo superado. Quando a agente se liberta de um medo, de uma coisa ruim e fala sobre isso, abrimos uma possibilidade para outras pessoas se libertarem também!
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  • Alline

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 18h05
  • Tem gente que lê mas não entende nada mesmo. Qual parte do MEDO DE MORRER as pessoas não entendem quando questionam os anos aguentando a violência? Já pensaram que fugir de um/uma psicopata pode não ser tão simples? Povo que gosta de achar solução pra vida dos outros sem ter nem noção do que elas passam.
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  • alice

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 14h35
  • em primeiro lugar parabenizo pela atitude, agora ficar 9 anos achando que o cara vai mudar me desculpe é demais. Você precisa gostar mais de si para depois pensar no outro. Respeite ame cuide, não seja objeto desses delinquentes que finge que só tem você, eles só pensam neles. Atitude faz com que sejamos respeitados(a).
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  • Paulo Lemos

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 13h21
  • Parabéns pela coragem de se expor e de propor, Sirlei! Deus abençoe você e sua família. Abs!
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  • BESOURO

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 12h27
  • 9 anos pra tomar atitude, estranho, a violência sofrida foi pq mesmo??? Lembro NÃO CONCORDO COM VIOLÊNCIA CONTRA NENHUM SER.
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  • GOUVERNEMENT

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 12h13
  • Quanto vitimismo né !!! Ora, no primeiro ato de violência já não era possível separar-se do agressor??? Antes mesmo do compromisso, na maioria dos casos, o agressor já demonstra seus indícios!! Agora se o amor pelo outro falou mais alto ao ponto de desprezar-se a si próprio ai é outra história que muita mulher precisa reavaliar suas posiçoes, independemente de agressao ou nao. E diga-se, desde já, que sou contrário totalmente a violencia contra mulheres, mas vitimismo ´também é inaceitável.
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  • Lia Silva

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 11h59
  • A Felicito por compartilhar sua história pessoal. Quando falamos abertamente sobre a violência sofrida passamos a ter rosto nome e a existir.... Desta forma outras Vítimas superam seus próprios medos e conseguem pedir ajuda. Eu Fui Vítima de Violência Parimental e depois quando passei a ter um relacionamento de ( casamento) também fui Vitima da Violência Doméstica. Hoje vivo bem Graças a Deus! Com ajuda de Profissionais consegui Superar muitas de minhas dificuldades.
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  • HOMEM QUE BATE EM MULHER ? BANDIDO

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 11h54
  • Parabéns pela coragem! Infelizmente, esse mal tem assolado muitas famílias, e notadamente quando envolve pessoas com poderio financeiro, a punição é sempre demorada e até tardia. Existem casos de agressores que trocam de parceiras e voltam à agredir, claro, pois as novas vítimas não conhecem o lado agressor do cidadão. Deveria ser feita uma reforma com o objetivo de publicizar o nome das partes, para que seja afastada essa pseudo proteção do sigilo judicial em favor da uma informação da sociedade. E não estamos falando de condenação antecipada ou algo do tipo, pois, se o camarada está respondendo à um inquérito policial ou foi preso em flagrante delito, no mínimo, indícios existem. O DIREITO DAS VÍTIMAS DEVE SEMPRE SE SOBREPOR AO DIREITO DO AGRESSOR! Não será uma condenação antecipada, apenas um fator de diminuição das agressões, pois existem muitos afortunados que adoram ser MACHOS E AGREDIR MULHERES, MAS SÃO COVARDES AO ENFRENTAR OS ÔNUS DA LEI! HOMEM QUE BATE EM MULHER É BANDIDO DA PIOR ESPÉCIE, PORCARIA, ESCÓRIA DA SOCIEDADE, SENDO IGUAL OU PIOR QUE AQUELES ESTUPRADORES, O MAIS VIL E DEPLORÁVEL TIPO DE CRIMINOSO!
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  • Mayara

    Terça-Feira, 28 de Junho de 2016, 11h43
  • Que bom saber que todo esse pesadelo já passou,fico feliz pelo que vive hoje juntamente com a sua linda família, em especial a sua princesa Luna. Abraço.
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